Poesia
Visual.
A construção vivida do fragmento
Hoje um jovem
estudante vê um filme, joga Metin 2 e
comunica no Skype. A sua atenção e
percepção é fragmentada, descentrada, descontínua, não hierarquizada e
flutuante.
Para o trabalho realizado no âmbito da disciplina
de Introdução à Pintura (oitavos A, B e C) e com a colaboração de Língua
Portuguesa, era desde logo necessário contrariar a ideia de instantaneidade,
requerendo metodologia projetual e um rigor de execução longo. Neste exercício
criativo, em vez da habitual habilidade que consiste em fazer o rosto de Pessoa
com um dos seus poemas numa perspectiva mimética, procurou-se uma outra
direcção na construção dos trabalhos. Como material básico de formação e
informação básico, foram propostos autores como Peter Blake, Tom Philips, Emerenciano e E. M de Melo e Castro,
procurando solidificar o espaço difuso entre a escrita e a pintura. Devido á
intensidade da cor e à criação de uma estética pop de iconografia universalista
Peter Blake assumiu paternalmente um posição de relevo na factura dos trabalhos
produzidos, sendo revisitado dentro de um contexto das estéticas revivalistas,
fragmentárias e apropriativas pós- modernas. Aos alunos foi proposto um
exercício de fragmentação de um conjunto de poemas que haviam sido pré
seleccionados pela professora de Língua Portuguesa Agostinha Serra. O resultado
deste processo de demolição e desagregação resulta na construção de objectos
físicos onde se revelam sinais de presenças e ausências. Acumulam-se imagens de
um universo popular e juvenil, (corações, arcos iris, logotipos, letras, cores
primárias e secundárias com igual e uniforme destaque), assim como pedaços
restantes de poemas. Esta ideia de não totalidade e de modelo fragmentário, dispersivo,
descontinuado e híbrido materializa uma estética que Huysman diz ser a do fim
natural das coisas. É também o modelo fragmentário o da viagem na net, da
narrativa de Pulp Fiction das composições de John Zorn. Repare-se que a Vénus de Milo tem na sua
condição de existência o ser fragmento e pouco tempo enquanto obra una. Os alunos podem não ter (pois não têm)
consciência das implicações destas suas ações e actividades, no entanto são os
actores dos papéis que lhes são destinados, e estes têm obviamente uma dimensão
fragmentária.
Rui Coutinho
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