30/11/2023

Ação: “Abril depois de Abril” – Memórias da Guerra Colonial: encontro com escritor Afonso Bastos. Atividade da Biblioteca Escolar Tomaz Pelayo

 

Esta sessão foi realizada no dia 30 de novembro, no Auditório da Escola Tomaz Pelayo das . A referida ação enquadrou-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, onde o Escritor falou da sua experiência na Guerra Colonial, navegando entre as recordações daquele que foi o trauma de uma geração. Foi o início das atividades em auditório, entre outras a desenvolver pela Biblioteca ao longo do ano.



No final o Escritor Afonso Bastos, brindou-nos com os últimos poemas que fez sobre o 25 de Abril:

Que Abril é este

 

Abril, quantos anos já lá vão

do tempo das papoilas e dos cravos…

do tempo em que esta esp’rança se fez pão,

do tempo em que deixou de haver escravos!

 

Abril já tão distante, ai quem nos dera

agora, que esse sonho se esfumou,

tão longe que não fosse e outro houvera

p’ra nos trazer o sol que lá brilhou!

 

Porém, Abril, agora esmoeceu,

murchavam cravos, voltaram desalentos

e o tempo da arrogância renasceu

trazido na ameaça doutros ventos!

 

Abril uma vontade por cumprir

dum povo cabisbaixo e outra vez triste;

quem já perdeu o jeito de sorrir

também perdeu a paz que nele existe!

 

Abril, tantos sem pão, outra vez fome,

a alma a entardecer, o conde andeiro

a pátria está vazia e já sem nome

perdeu-se no capim do nevoeiro!

 

Que é feito do Abril que nos disseram

em calorosas juras de igualdade!...

da força que nos une o que fizeram

neste bramir de alvar de austeridade…

 

Fábricas fecham, corrupto e sombrio

alguém, zombando, da desgraça vive…

e onde está abril que foi um rio

e onde está a palavra que nos motive?

 

Porque os lobos da alcateia antiga

amantes do regime contra o povo,

clamam vingança sobre a nobre ideia

dos que fizeram de Abril um tempo novo!

 

O Abril das vitórias e da festa

onde já vai, minado de trapaça?

que povo somos nós? que pátria é esta

onde há medo, outra vez, de haver mordaça?

 

Traídos por outro Abril, tão algoz

mais que articular qualquer lamento,

é urgente fazer mais, que a nossa voz

ultrapasse as escadas de S. Bento!...


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